6 de novembro de 2008

Corre cavalinho branco


Corre cavalinho branco
Sobre as ervas e as folhas
Doem teus cascos feridos
Ninguém sabe as tuas dores

Corre cavalinho branco
Nesse prado de verdura
Tanto pesa tua sela
Ninguém sabe tua amargura

Corre cavalinho branco
Bebendo a luz do luar
Que vento longe te leva
Que não te deixe parar?




Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Duas meninas vestidas de amarelo


Duas meninas vestidas de amarelo
Dançam à sombra de uma árvore
De copa imensa e meiga
É o pôr-do-sol
Não há sombra no chão
E as meninas não dão por isso
Não sabem da noite
E dançam
E dançam
E não se cansam
Eu vi esta dança um dia
Do alto do monte
De Santa Luzia
Vi estas meninas

E a sua alegria






Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Mãe, a Lua está tão cheia!


Mãe, a Lua está tão cheia!
Tão cheia!
Não se vai entornar?
A mãe abraçou o filho
Com seus braços de Lua Nova
Com seu coração de Quarto Crescente
E contou-lhe devagarinho
A história do Quarto Minguante.



Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Na areia morena molhada




Na areia morena molhada
Uma concha pequena
Feita de seda, de sal, de sol
De luar
É uma prenda do mar
Do seu azul imenso
Que mão de menino
A vai buscar?



Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Era uma vez uma hera


Era uma vez uma hera
Era uma hera tão verde
Verdura naquele muro
De um granito tão escuro.
Era uma vez uma hera
Que no muro se pendera.
Era uma vez, era, era…
Folha tão linda não há
Era, era…Uma folhinha com agá…
.
Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Vai o barco pelo rio


Vai o barco pelo rio,
Vai o barco pelo mar:
Os peixes vão em silêncio
As escamas a cantar.



Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Não te assustes


Não te assustes
É o falar das folhas
Seu verde falar
Com o vento que vai
Com o vento que vem
Não te assustes e aprende a escutar
O vento que vai
O vento que vem

Verdes folhas e a sua fala.




Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

O Sol da madrugada



O sol da madrugada
Entrou de manso
Pela fresta da janela
No quarto do menino
E disse-lhe baixinho:
-Este anel de rubi
É para ti!
O menino ainda cheio de sono
Fechou aquela lágrima da noite
Na mão pequenina
E guardou segredo.
.
Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Ó meu menino da rua



Ó meu menino da rua
Só, com uma chave na mão:
Quem é que brinca contigo?
Quem é que pede perdão?
.
Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Menino


Menino
Encosta a tua cabeça de seda
No meu ombro
Contigo, sei escutar
A música mágica do Mundo



Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Loas à chuva e ao vento


Chuva, por que cais? Que canto tão frio,
Vento, aonde vais? Que canto tão terno
Pingue… Pingue… pingue… O canto da água,
Vu… Vu… Vu… O canto do Inverno…
Pingue…


Chuva, por que cais?
Vento, aonde vais? Que triste lamento
Pingue… Pingue… Pingue… Embora tão terno
Vu… Vu… Vu… O canto do vento
O canto do Inverno…
Vu...

Ó vento que vais,
Vai devagarinho.
Ó chuva que cais, E a chuva não cai,
Mas cais de mansinho. E o vento não vai…
Pingue… Pingue… Pingue…
Vu…Vu… Vu…
E os pássaros cantam
Muito de mansinho E as nuvens levantam
Em meu coração
Já não tenho lenha
Nem tenho carvão…
Pingue… Pingue…
Vu… Vu…


Recolhido por Rui Santos, Sofia Pinho, André Coelho e Luís Maia

Bibliografia de Matilde Rosa Araújo

O Livro da Tila
O Palhaço Verde
História de um Rapaz
O Cantar da Tila
O Sol e o Menino dos Pés Frios
O Reino das Sete Pontas
Os Quatro Irmãos
A História de uma Flor
A Fita Vermelha
O Sol Livro
A Escola do Rio Verde
A Saquinha da Flor
O Cavaleiro Sem Espada
A Velha do Bosque
A Guitarra da Boneca
As Crianças, Todas as Crianças
A Infância Lembrada: Antologia
A Estrada Fascinante
A Festa de Anos do Tomás
Anjos de pijama
O Pequeno Herói
O capuchinho cinzento
Sons p’ra Guitarra da Boneca
A mulher da minha vida
Lucilina e Antenor
Os contos de um mundo com esperança

Recolhido por Mariana Silva, Helena Silva e Ricardo Alves

Bibliografia de Matilde Rosa Araújo

Matilde Rosa Araújo escreveu muitos livros cheios de histórias, como:

. O Livro da Tila – poemas para crianças, 10ª edição, Livros Horizonte, 1986;
. O Palhaço Verde – novela infantil, 5ª edição, Livros Horizonte, 1984.
. História de um Rapaz – conto infantil, 8ª edição, Livros Horizonte, 1986.
. O Cantar da Tila – poemas para a juventude, 8ª edição, Livros Horizonte, 1986.
. O Sol e o Menino dos Pés Frios – contos, 7ª edição, Livros Horizonte, 1986;
. O Reino das Sete Pontas – novela infantil, 2ª edição, Livros Horizonte, 1986 (ilustrações de Manuela Bacelar);
. Os Quatro Irmãos – 2ª edição, Livros Horizonte, 1983 (ilustrações de Ana Leão);
. História de uma Flor – conto infantil, 1ª edição.
. O Sol Livro – textos para o ensino, 1ª edição, Livros Horizonte, 1979.
. A Escola do Rio Verde – 2ª edição, Livros Horizonte, 198l (ilustrações de Romeu Costa);
. O Cavaleiro Sem Espada – Livros Horizonte, 1979.
. A Velha do Bosque – Livros Horizonte, 1993 (ilustrações de Ana Leão);
. A Guitarra da Boneca – Livros Horizonte, 1983.
. As Crianças, Todas as Crianças – Livros Horizonte, 1976;
. A Infância Lembrada: Antologia – Livros Horizonte, 1986;
. A Estrada Fascinante – Livros Horizonte, 1988; Mistérios – (ilustrações de Alice Jorge);


Recolhido por Inês Antunes, Jéssica Martins e Sónia Vieira

Resumo da história "A saquinha da flor" de Matilde Rosa Araújo

Era uma vez uma senhora de idade chamada Amélia.
Uma vez que já enviuvara há muitos anos, Amélia vivia sozinha num monte, numa casa de granito. À procura de uma vida melhor, os seus filhos partiram para outros países.
Amélia tinha um telemóvel e, de vez em quando falavam com os filhos, as noras, os genros e os netos. E até os irmãos!
Todos lhe perguntavam se ela estava bem e ela dizia que não lhe faltava nada.
Mas será que não lhe faltava nada?
Todas as lembranças da sua vida estavam presentes.
Foi naquele monte que Amélia nasceu e cresceu.
Faísca, o seu cão acompanhava-a em todos os momentos.
Mas não era só ela que vivia por aqueles lados! Ela tinha vizinhos e amigos. Ter vizinhos e amigos, mesmo que eles não estejam presentes, é óptimo! Mas ela conseguia escutar as cigarras, os pássaros, os ralos. E ainda o silêncio!
Ela via o Sol quando ele nascia e quando ele se punha no horizonte.
Também conseguia ver a Lua e as estrelas.
E, às vezes, havia dias, noites e Invernos tão frios, tão chuvosos que nem a lareira aquecia.
A pouco e pouco ia chegando a Primavera, depois o Verão e o Outono, muito lentamente.
Ao anoitecer, sentava-se à beira da porta e lembrava-se. Lembrava-se que quando era menina andava com os pés descalços, mesmo com frio. Os pais de Amélia trabalhavam no campo e esforçavam-se imenso mas mesmo assim o pão que conseguiam era sempre tão pouco…
O Sol ensinou a Amélia as horas certas e incertas.
Com um sacho nas mãos, Amélia ajudava os pais a amanhar a terra.
Agora, as suas mãos estavam com a pele enrugada e velha.
Quando era menina, brincava às cinco pedrinhas com os irmãos e dançava danças de roda.
Amélia nunca tinha ido à escola, pois naquele tempo não havia escola, naquela aldeia. Como seria ir à escola?
Com Faísca aos seus pés, Amélia sonhava. Sonhava que aprendia naquele banquinho, aprendia a ler. E tinha uma pequena saca onde guardava os livros e os cadernos: tal e qual como os netos!
Amélia ia por um caminho estreito no monte. De repente, aparece o cavalo branco e alguém lhe gritou a dizer para Amélia montar o cavalo.
Amélia subiu num pulo desajeitado, mas lá subiu.
Amélia agarrou-se com dificuldade ás crinas do cavalo. E o cavalo voou. Talvez o dia inteiro.
Até que chegou a noite muito diferente das outras. Amélia tinha um pouco de medo. Mas era tão bom voar!
As suas mãos de menina agarravam as crinas ásperas e do cavalo branco.
Mas onde estava Amélia?
Será que estaria na Lua?
Amélia ouviu de novo a tal voz que lhe disse para descer do cavalo, pois a professora estava à espera. Que professora? Onde?
Faísca adormecera nos pés de Amélia. Quando acordou começou a lamber as mãos enrugadas mas meigas como sempre.
Nisto apitou o telemóvel que Amélia guardava no bolso do seu avental.
Mas ela não lhe sabia mexer. Mas mesmo sem saber, escutava atentamente. Seria a voz de Maria? Mas Maria era a professora e trazia a saquinha onde guardava os livros e cadernos. Uma pequena professora.
Maria disse à avó que aquela escola era enorme. Lá, cabiam todos os meninos do mundo. Mas havia uma coisa um pouco estranha: o quadro era redondo… Podiam – -se escrever as letras que quisessem, pois naquele quadro cabiam tantas letras!
Amélia não sabia como lia, mas ao mesmo tempo dormia sentada no banquinho à beira da porta.
Faísca levantou-se e olhou para ela, como se entendesse tudo.
Os olhos de Faísca pareciam que diziam palavras de Ternura… A Ternura não tem raça.
Amélia acorda devagar e sorri. Sem medo e sem frio.
Com o telemóvel nas mãos enrugadas, Amélia escutava. Era a sua neta, Maria. Maria estava a perguntar à avó se estava tudo bem com ela.
Amélia respondeu que estava bem e que não lhe faltava mesmo nada e quis saber se Maria ainda tinha a saquinha da flor…



Resumo realizado por Inês Antunes, Sónia Vieira e Jéssica Martins

Matilde Rosa Araújo - Biografia


Escritora e pedagoga portuguesa, de seu nome completo Matilde Rosa Lopes de Araújo, nascida em 1921, em Lisboa. Tendo feito os seus estudos licenciais com professores particulares, licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa em 1945. Teve ainda uma apurada formação musical, com a frequência do Curso Superior do Conservatório da mesma cidade.
Personalidade sempre ligada à escrita e ao ensino. Foi professora do Ensino Técnico-Profissional durante longos anos, encarregando-se também da formação de professores, nomeadamente na Escola do Magistério Primário de Lisboa e no âmbito da literatura para a infância. Enquanto cidadã, tem-se ainda dedicado, no decorrer da sua vida, aos problemas da criança e à defesa dos seus direitos.

Tendo iniciado a sua vida literária ainda no tempo da frequência universitária, Matilde Rosa Araújo colaborou abundantemente em várias publicações periódicas ao longo das décadas seguintes. Por outro lado, o conjunto dos seus livros (de poesia e narrativa) constitui um dos mais significativos trabalhos de sempre da literatura portuguesa para e sobre a infância e a juventude.

De entre as cerca de três dezenas de títulos publicados, merecem destaque, pela fina sensibilidade que revelam à vivência da infância, obras como O Livro da Tila (1957), O Palhaço Verde (1962), História de um Rapaz (1963), O Reino das Sete Pontas (1974), A Velha do Bosque (1983) e, de 1994, As Fadas Verdes e O Chão e a Estrela.

Matilde Rosa Araújo recebeu vários prémios de relevo no domínio da literatura para a infância. Em 1980, foi-lhe atribuído o Grande Prémio de Literatura para a Infância da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1991 ganhou, no Brasil, um prémio para o melhor livro estrangeiro, atribuído a O Palhaço Verde pela Associação Paulista de Críticos de Arte. O seu livro de poemas As Fadas Verdes recebeu, em 1996, a distinção da Fundação Calouste Gulbenkian para o melhor livro para a infância publicado no biénio 1994-1995.

A autora publicou também textos de ficção para adultos e obras que demonstram as suas qualidades de pedagoga. São de sua autoria alguns volumes sobre a importância da infância na criação literária para adultos e sobre a importância da literatura infanto-juvenil na formação da criança, na educação do sentimento poético como raiz pedagógica de valia.

Em Maio de 2004 foi distinguida com o Prémio Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.
Informação recolhida por Inês Antunes, Jéssica Martins e Sónia Pinho

Resumo da história "O menino dos pés frios" de Matilde Rosa Araújo


Havia uma casa muito grande. Com um tecto altíssimo, nem sempre azul, na casa enorme habitava uma grande família: uma família tão grande que, por vezes, não julgavam os seus membros que se conheciam, e se deviam amar.
Houve um menino que entrou nesta casa estava ela toda branca. No chão tapetes de branco, cristais de água e uma brancura que parecia neve. As próprias árvores escorriam essa brancura. Iluminava-a uma estrela tão brilhante que parecia que pousava sobre as nossas mãos.
Um dia que fazia anos em que o menino entrava nessa casa, outro menino por ela andava com frio. Pelo chão, pelos milhões de cristais, caminhavam os seus pezinhos enregelados. Tanto frio que nem podia olhar a estrela brilhante. Nem os milhões de cristais que pisava.
Uma mulher chorava a um canto dessa casa. E era triste essa mulher. Estava triste e cansada.
Na casa nem tudo era belo. Ali estava aquele menino cheio de frio. E, como ele, tantos meninos.
E, já há quase dois mil anos, um menino entrara na casa, que ficou mais clara com a luz brilhante do tecto. O menino entrou só para dizer uma palavra pequenina: AMOR.
Essa mulher perguntou ao menino dos pés frios se ele tinha casa. O menino olhou a mulher triste e ficou muito triste, os dois estavam tristes, disse quase envergonhado que não.
A mulher perguntou ao menino se ele tinha roupa, sapatos, um lume e pão.
A cabeça do menino ia abanando e dizia à mulher triste que começou a ter vergonha. Então ela consentiu que na sua casa de tecto nem sempre azul, houvesse um menino sem roupa, sem um lume e sem pão.
Ela consentia uma coisa assim, e os outros também.
Escorregaram-lhe duas lágrimas transparentes pela cara. Água.



Resumo realizado por Catarina Oliveira e Ana Sousa