Uma vez que já enviuvara há muitos anos, Amélia vivia sozinha num monte, numa casa de granito. À procura de uma vida melhor, os seus filhos partiram para outros países.
Amélia tinha um telemóvel e, de vez em quando falavam com os filhos, as noras, os genros e os netos. E até os irmãos!
Todos lhe perguntavam se ela estava bem e ela dizia que não lhe faltava nada.
Mas será que não lhe faltava nada?
Todas as lembranças da sua vida estavam presentes.
Foi naquele monte que Amélia nasceu e cresceu.
Faísca, o seu cão acompanhava-a em todos os momentos.
Mas não era só ela que vivia por aqueles lados! Ela tinha vizinhos e amigos. Ter vizinhos e amigos, mesmo que eles não estejam presentes, é óptimo! Mas ela conseguia escutar as cigarras, os pássaros, os ralos. E ainda o silêncio!
Ela via o Sol quando ele nascia e quando ele se punha no horizonte.
Também conseguia ver a Lua e as estrelas.
E, às vezes, havia dias, noites e Invernos tão frios, tão chuvosos que nem a lareira aquecia.
A pouco e pouco ia chegando a Primavera, depois o Verão e o Outono, muito lentamente.
Ao anoitecer, sentava-se à beira da porta e lembrava-se. Lembrava-se que quando era menina andava com os pés descalços, mesmo com frio. Os pais de Amélia trabalhavam no campo e esforçavam-se imenso mas mesmo assim o pão que conseguiam era sempre tão pouco…
O Sol ensinou a Amélia as horas certas e incertas.
Com um sacho nas mãos, Amélia ajudava os pais a amanhar a terra.
Agora, as suas mãos estavam com a pele enrugada e velha.
Quando era menina, brincava às cinco pedrinhas com os irmãos e dançava danças de roda.
Amélia nunca tinha ido à escola, pois naquele tempo não havia escola, naquela aldeia. Como seria ir à escola?
Com Faísca aos seus pés, Amélia sonhava. Sonhava que aprendia naquele banquinho, aprendia a ler. E tinha uma pequena saca onde guardava os livros e os cadernos: tal e qual como os netos!
Amélia ia por um caminho estreito no monte. De repente, aparece o cavalo branco e alguém lhe gritou a dizer para Amélia montar o cavalo.
Amélia subiu num pulo desajeitado, mas lá subiu.
Amélia agarrou-se com dificuldade ás crinas do cavalo. E o cavalo voou. Talvez o dia inteiro.
Até que chegou a noite muito diferente das outras. Amélia tinha um pouco de medo. Mas era tão bom voar!
As suas mãos de menina agarravam as crinas ásperas e do cavalo branco.
Mas onde estava Amélia?
Será que estaria na Lua?
Amélia ouviu de novo a tal voz que lhe disse para descer do cavalo, pois a professora estava à espera. Que professora? Onde?
Faísca adormecera nos pés de Amélia. Quando acordou começou a lamber as mãos enrugadas mas meigas como sempre.
Nisto apitou o telemóvel que Amélia guardava no bolso do seu avental.
Mas ela não lhe sabia mexer. Mas mesmo sem saber, escutava atentamente. Seria a voz de Maria? Mas Maria era a professora e trazia a saquinha onde guardava os livros e cadernos. Uma pequena professora.
Maria disse à avó que aquela escola era enorme. Lá, cabiam todos os meninos do mundo. Mas havia uma coisa um pouco estranha: o quadro era redondo… Podiam – -se escrever as letras que quisessem, pois naquele quadro cabiam tantas letras!
Amélia não sabia como lia, mas ao mesmo tempo dormia sentada no banquinho à beira da porta.
Faísca levantou-se e olhou para ela, como se entendesse tudo.
Os olhos de Faísca pareciam que diziam palavras de Ternura… A Ternura não tem raça.
Amélia acorda devagar e sorri. Sem medo e sem frio.
Com o telemóvel nas mãos enrugadas, Amélia escutava. Era a sua neta, Maria. Maria estava a perguntar à avó se estava tudo bem com ela.
Amélia respondeu que estava bem e que não lhe faltava mesmo nada e quis saber se Maria ainda tinha a saquinha da flor…
Resumo realizado por Inês Antunes, Sónia Vieira e Jéssica Martins
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